11/03/2010

Feliz governo velho

Há exatamente quatro anos eu estava em Valparaiso cobrindo a posse de Michelle Bachelet na Presidência do Chile (primeira mulher eleita presidenta do Chile, primeira médica a chegar ao governo depois de Salvador Allende e filha de um militar - da Aeronáutica - que morreu de infarto depois de ser preso e torturado depois do golpe de 11 de setembro de 1973).

Na volta, passamos por uma cidadezinha no Vale de Casablanca onde ela parou na volta à Santiago (no curralzinho para a imprensa um cara da cidade que se dizia fotógrafo para ficar por ali me contou que Casablanca não produzia apenas bons vinhos) antes de chegar ao Palácio La Moneda onde ela discursou para uma multidão na Plaza de la Constitución.

Terminei a noite do outro lado do La Moneda, na Plaza de la Ciudadanía (que dá para o lado da Alameda) entrando ao vivo na Globo News durante o show armado para comemorar a chegada do novo governo.

Até Gilberto Gil cantou naquela noite e me lembro que numa das entradas ao vivo eu disse que uma das músicas foi o cover de "No woman, no cry" de Bob Marley. Não fazia idéia que até o título da música tinha sido traduzido.

Se eu estivesse em Valparaiso hoje teria presenciado posse de Sebastian Piñera, candidato da Renovação Nacional (coligada com UDI) que derrotou Eduardo Frei, ex-presidente e novamente candidato pela Concertação, coligação que havia governado o país desde o fim da ditadura militar em 1990 (4 mandatos).

Segundo a imprensa chilena, Piñera é o primeiro presidente de direita eleito em 50 anos no Chile (não se esqueçam que durante quase 20 anos nesse período houve uma ditadura). Mas acho que ele não aceita esse rótulo (deve se considerar, no máximo de centro-direita) e tenha afirmado várias vezes durante a campanha que o país precisa olhar para a frente, esquecer o passado e que a velha divisão entre esquerda e direita já está ultrapassada.

Pelo menos desde que foi eleito, Piñera também vem defendendo conceitos como "democracia de acordos" e "governo de unidade nacional". Pelo pouco que entendo de política em geral, e da chilena em particular, não me parece o caso.

Talvez, com o terremoto de 27 de fevereiro, eu tenha que repensar a proposta de governo de unidade nacional, mas acho que ainda não é o caso. O Chile foi muito afetado pelo terremoto e o tsunami que seguiu, principalmente na zona centro-sul do país, mas não está de joelhos e pode seguir adiante sem um governo de unidade nacional. Basta um bom governo.

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