22/03/2010

Universidad de Chile x Flamengo

O jogo foi há cinco dias, na quarta-feira passada. Mas como esse blog é para ser escrito, não lido, e eu não estou com pressa, cinco dias podiam ter sido cinco minutos.

Começamos pelo fim: o Flamengo perdeu de 2 a 1 para a Universidad de Chile no estadio Monumental, do Colo Colo. Não vi melhores momentos ou os gols depois do jogo,acho que sequer li sobre a vitória da "La U" (o lado positivo da derrota foi aprender, finalmente, que La U é a Chile e la UC é a Católica), também não precisei rever o segundo gol dos chilenos para me dar conta que foi um frangçao do Bruno.

Dizer o quê? No domingo anterior ele agarrou DOIS penâltis na vitória do Flamengo contra o Vasco. Ontem, no empate-vitória (eu não sou de comemorar empate como vitória, mas abro a exceção quando isso acontece aos 48 minutos do segundo tempo no último lance do jogo!) do Flamengo contra o Botafogo ele quase catou outro. Aliás, ele escolheu o canto certo e foi tão bem na bola que ele passou por cima dela.

Mas voltando ao Monumental. Fazia anos que eu não via o Flamengo perder um jogo. Claro, fazia anos que eu também não ia no estádio. Se me lembro bem, meu útlimo jogo foi a final da Copa do Brasil de 2006 contra o....time que acabou vice. Não me lembro quem foi. O importante é que ganhamos.

Também fazia anos que eu não via o Flamengo jogar tão mal. Entendo um certo receio por causa do terremoto, mas isso não é desculpa. Aliás, seria mais uma razão para ir com tudo para cima dos chilenos, em respeito aos torcedores que estavam lá...

O time não acertava uma. Principalmente Adriano e Vagner Love. Matavam a bola na canela, Vagner defendia tanto a bola como pivô que acabava caindo sozinho. Nem quando tínhamos sorte, dava certo. No segundo tempo, um vacilo da defesa chilena e a bola sobrou livre para o Adriano na intermediária, ali pelo lado direito do ataque. Quando achei que dava, vi a distância dali para o gol. Enfim, digamos, que uma arrancada dessas não é o forte do Adriano. De fato, ele foi desarmad uns cinco passos depois.

La U perdeu várias chances de fazer o terceiro, e precisando de um empate o Flamengo colocou uma pressão depois e Vagner Love perdeu um gol que parecia feito ali onde eu estava, exatamente atrás do gol.

A verdade é que pareciam dois pernas de pau. Mas uma coisa eu reconheci já no estádio. Os dois estavam querendo jogo. Canelada depois de canelada, continuavam pedindo a bola. Também deu para sentir na hora a diferença quando o Petkovic entrou em campo.

Acabou o jogo, uns 20, 30 mil torcedores de La U, que cantaram o jogo INTEIRO, deixaram felizes o estádio do Colo Colo, e nós, na torcida do Flamengo - eu, um amigo e dois conhecidos, e outras 200-300 pessoas formavam a "massa" rubro-negra: "representantes" da Raça, Torcida Jovem, torcedores do Flamengo, brasileiros diversos, alguns poucos engravatados, curiosos chilenos, no frio, e custodiados por 20 policiais que não nos deixavam sair.

Como sempre, a troca de amabilidades entre as torcidas após o jogo. Não sei o que gritaram do lado de lá, mas as respostas de uns gaiatos do lado de cá foram "Viva Peru" e "chupa-pisco". Valeu umas risadas, e provavelmente mais uns 15 minutos dentro do estádio.

Foi meu primeiro jogo no Chile. Se tudo correr bem, o segundo será no dia 14 de abril. É impressionante como foi fácil e calmo chegar e entrar no estádio, assim como voltar para casa. Claro, sem dar bandeira com a camisa do Flamengo, mas, ainda assim, sem stress, sem engarrafamento, sem flanelinha, sem corre-corre...

Dia 14 de abril tem mais. Tomara que eu volte a ver o Flamengo vencer ao vivo. Se não, paciência. A gente não pode ganhar todas...

Antes de acabar, como deu gosto ver o jogo de ontem pela televisão: Flamengo x Botafogo. Para começar, uma ótima dupla narrando/comentando o jogo pela Globo/Premiere. Quando liguei a televisão já estávamos perdendo de um a zero, dizem que num pênalti mal marcado (foi falta, mas fora da área) que o Bruno "frangou". Empatamos com o Adriano e no segundo tempo o Botafogo fez o segundo.

Caramba, como o jogo ficou aberto e bonito. Cheguei a comentar que jogaço, só seria melhor se tívessemos ganhando. O Flamengo partiu com tudo para cima e abriu muito espaço. Cada contra-ataque um susto, mas também tivemos várias chances de gol.

Vagner Love mandou um voleio lindo na trave, Adriano também jogava bem. E foi aí que eu vi como foi atípico aquele jogo de quarta-feira no Chile. Para cada bola que eles mataram na canela no Monumental, conseguiram armar algo no Rio. Até o empate aos 48 minutos. Caramba, que jogo.

13/03/2010

Prioridades

Como em praticamente qualquer lugar do mundo, o novo governo do Chile foi eleito por prometer muita coisa que provavelmente não poderá cumprir. No Chile, não poderá mesmo. O plano de governo de Sebastian Piñera terá que adaptar-se à realidade pós-terremoto no país.

Politicamente, isso pode ser bom para o novo governo por vários motivos. Entre eles,
1. Maior tolerância e período de graça
2. Disposição dos chilenos (e estrangeiros) em contribuir como puderem para reconstruir o Chile
3. O fato do terremoto ter acontecido a 12 dias da posse deu tempo suficiente para o governo de Piñera avaliar danos e aprender dos erros e acertos do governo da Bachelet.
4. Entrega um norte imediato ao governo.

Piñera vai ter que remanejar o orçamento e buscar fontes para financiar a reconstrução. De onde ele vai tirar os recursos necessários vai dar sinais de quais serão suas prioridades.

Também será interessante ver que temas da agenda, não diretamente relacionados ao terremoto ele vai promover.

11/03/2010

13 terremotos

Ontem (10), algumas pessoas postavam na web: não seria um sinal dos deuses se, quando o presidente eleito Sebastian Piñera assumisse, outro terremoto atingisse o país?

Pois, não é que depois de alguns dias de relativa calma, justo hoje, 11 de março, o Chile foi sacudido por diversos tremores? Treze até às 17h11 (horário local), segundo o USGS.

E não é que os três mais fortes foram justo antes que ele jurasse como presidente? Isso aconteceu às 12h17 e os terremotos foram às 12h06 (6 graus na escala Richter), 11h55 (6,7 graus na escala Richter) e 11h39 (6,9 na escala Richter)?

Sinal dos deuses ou mera coincidência, o terremoto fixou uma nova agenda e para o governo isso pode não ser de todo ruim.

Como não poderia deixar de ser, Piñera saiu da posse para visitar áreas afetadas. Mas não sem brincar, antes, com os terremotos: foi uma manobra da Concertação [coligaçao de centro-esquerda que governo o país durante os últimos 20 anos, desde o fim da ditadura até hoje] para "moverme el piso" [me desequilibrar], disse Piñera à presidente da Argentina e ao vice-presidente da República Dominicana depois da posse (ouça aqui).

Feliz governo velho

Há exatamente quatro anos eu estava em Valparaiso cobrindo a posse de Michelle Bachelet na Presidência do Chile (primeira mulher eleita presidenta do Chile, primeira médica a chegar ao governo depois de Salvador Allende e filha de um militar - da Aeronáutica - que morreu de infarto depois de ser preso e torturado depois do golpe de 11 de setembro de 1973).

Na volta, passamos por uma cidadezinha no Vale de Casablanca onde ela parou na volta à Santiago (no curralzinho para a imprensa um cara da cidade que se dizia fotógrafo para ficar por ali me contou que Casablanca não produzia apenas bons vinhos) antes de chegar ao Palácio La Moneda onde ela discursou para uma multidão na Plaza de la Constitución.

Terminei a noite do outro lado do La Moneda, na Plaza de la Ciudadanía (que dá para o lado da Alameda) entrando ao vivo na Globo News durante o show armado para comemorar a chegada do novo governo.

Até Gilberto Gil cantou naquela noite e me lembro que numa das entradas ao vivo eu disse que uma das músicas foi o cover de "No woman, no cry" de Bob Marley. Não fazia idéia que até o título da música tinha sido traduzido.

Se eu estivesse em Valparaiso hoje teria presenciado posse de Sebastian Piñera, candidato da Renovação Nacional (coligada com UDI) que derrotou Eduardo Frei, ex-presidente e novamente candidato pela Concertação, coligação que havia governado o país desde o fim da ditadura militar em 1990 (4 mandatos).

Segundo a imprensa chilena, Piñera é o primeiro presidente de direita eleito em 50 anos no Chile (não se esqueçam que durante quase 20 anos nesse período houve uma ditadura). Mas acho que ele não aceita esse rótulo (deve se considerar, no máximo de centro-direita) e tenha afirmado várias vezes durante a campanha que o país precisa olhar para a frente, esquecer o passado e que a velha divisão entre esquerda e direita já está ultrapassada.

Pelo menos desde que foi eleito, Piñera também vem defendendo conceitos como "democracia de acordos" e "governo de unidade nacional". Pelo pouco que entendo de política em geral, e da chilena em particular, não me parece o caso.

Talvez, com o terremoto de 27 de fevereiro, eu tenha que repensar a proposta de governo de unidade nacional, mas acho que ainda não é o caso. O Chile foi muito afetado pelo terremoto e o tsunami que seguiu, principalmente na zona centro-sul do país, mas não está de joelhos e pode seguir adiante sem um governo de unidade nacional. Basta um bom governo.

01/03/2010

Terremoto no Chile

A Márcia conta abaixo como vivemos o terremoto. Tivemos sorte, foi mais um susto que qualquer outra coisa.

Há diversas iniciativas de como ajudar o Chile - ajuda desde fora e como os chilenos estão se ajudando: por exemplo um mapa interativo de como estão as estradas no Chile. Aqui uma página com vários links.

Queridos amigos,
Muito obrigada pela preocupação e mensagens de todos. Agora, segunda-feira, voltou a eletricidade e finalmente temos acesso à Internet. O Lucas tinha conseguido acessar a Internet pelo i-phone, mas a conexão caía o tempo todo.
Foi assim: 3:40 da manhã, mais ou menos, do sábado, começou a tremer. A gente já tinha passado por mil desses tremorezinhos, e como sempre fazemos, fomos pro quarto dos meninos só até confirmar que era só tremorzinho. Mas não era.

Nos olhamos e em segundos tinhamos cada um um menino no colo, sentados debaixo da porta. Sabemos que hoje essa não é a técnica mais recomendada. Agora o que recomendam é se agachar perto de um móvel grande e sólido, mas como não tinha nenhum, recorremos ao velho truque da porta. O importante é que não estávamos na frente de nenhuma estante com livros, nem quadros com vidro, nem nada perigoso.

Enquanto durou o terremoto, os meninos ainda estavam meio dormindo (Felipe perguntou "por que a terra está tremendo", e só), eu me consolava com a idéia de que não podia durar muito e de que o Lucas estava conosco (ia viajar para o México dali a algumas horas), e pensava que precisamos deixar os capacetes de ski à mão para estas situações.

Quando parou, colocamos os meninos na nossa cama, eles voltaram a dormir, e o Lucas foi inspecionar a casa, fechar o gás, etc. Não aconteceu quase nada. Os quadros não caíram, os livros ficaram nas estantes, a louça dentro dos armários da cozinha. Só não tinha luz. Não tínhamos idéia do estrago no resto da cidade e do país. Voltamos pra cama e dormimos.

Só de manhã começamos a ter noção do tamanho do estrago, por um telefonema da Globonews e depois pelo rádio do carro. Aos poucos, com o sinal do celular intermitente e pouca bateria, telefonamos para os pais, que nos deram mais notícias sobre a situação do que nós a eles, e conseguimos contato com alguns dos nossos amigos daqui, que estão todos bem.

Passamos o sábado em casa. No domingo Lucas saiu para comprar algumas coisas, e para carregar as coisas eletrônicas na casa de um amigo que tinha eletricidade, e à tarde vieram para cá alguns amigos com os filhos. As crianças tem o dom maravilhoso de se divertir em qualquer circunstância. E para nós adultos foi muito bom estar em companhia. E agora estamos nos organizando para voltar à normalidade. As crianças voltam para a escola na quarta, nós para o trabalho na quinta. Vamos trabalhar em casa até lá, esperando que a Internet não falhe.
Resumindo, para nós foi um grande susto. Como sempre nessas horas, os que mais sofrem são as pessoas mais pobres que já viviam em situações precárias. Vamos ver como podemos ajudar.
Um grande abraço para todos vocês e muito obrigada de novo por se preocuparem.
Márcia, Lucas, Felipe e Carlos.